quinta-feira, 25 de abril de 2019

A Beira do suicídio



Merehelem sempre foi uma criança introvertida, tímida, medrosa. Gostava de brincadeiras de meninos, de roupas de meninos. Já Jhames era exatamente o contrário, alegre, falante espalhafatoso! E, amava as coisas de meninas. Estudavam juntos desde criança por isso eram colegas. Não chegavam a ser amigos pois eram bastante diferentes nos gostos, ou seja, com poucas afinidades.  Marehelem era católica e Jhames evangélico. Ambos frequentavam suas igrejas com seus pais e irmão.
Mas eles tinham algo em comum: sofriam Bullyng quase todos os dias. Na escola, na rua, na família em qualquer lugar que fossem.  Um determinado dia a professora de filosofia escolheu os dois para fazerem um trabalho juntos, exatamente sobre bullyng. 
Eles escolheram fazer o trabalho na casa de Jhames já que seus pais trabalhavam e poderiam falar mais abertamente sobre o assunto.  No dia marcado Merehelem foi até a casa do colega. E enquanto Jhames falava sobre bullyng e suas consequências, Marehelem desatou a chorar compulsivamente. Jhames manteve a calma, pois sabia que a colega precisava muito de sua ajuda naquele momento.
Calmamente ele esperou que Marehelem se acalmasse e pegando em sua mão lhe perguntou se ela queria conversar sobre o assunto. Ainda argumentou que eles estavam no mesmo barco e que desabafar poderia ajudá-la.  Ela concordou e desfiou toda sua ladainha para ele que ouviu atentamente.  E lhe disse:
— Sabe amiga eu tenho as mesmas minhoquinhas que me perturbam a cabeça. Tem a família que não aceita que somos diferentes, tem a religião que nos condena e também a sociedade que de forma um tanto quanto velada nos crucifica.  Vou te contar algo que nunca contei para ninguém para que entenda melhor como superei isso.
Merehelem balança a cabeça afirmativamente e Jhames conta o episodio.
— Eu estava farto das brincadeirinhas de mau gosto, do meu pai me dando bronca e me espancando e até de ouvir o pastor me dizendo que ia me curar. Em um domingo após o culto, fui ao quintal — ele apontou o quintal que se via da janela. — Lá tem um pé de goiaba que é um tipo de confidente meu. Quando criança eu passava horas lá em cima, sentado. Mas, naquele dia eu tinha uma só coisa em mente: acabar com aquele sofrimento. E pra isso eu precisava de uma corda. Eu sabia que meu pai guardava uma em algum lugar. Então procurei até achar. Depois disso subi no pé de goiaba com a corda e um caderno. Eu ia escrever algo para minha mãe. — Marehelem a essa altura, já não chorava mais e estava totalmente concentrada em Jhames. — Antes de escrever eu tentei fazer uma prece. Na verdade mais um pedido de desculpas para Deus. Eu disse a Ele que me perdoasse pelo que faria, pois eu já não aguentava mais. E também falei que não conseguia compreender as pessoas religiosas. Pois sempre insistiam em dizer que Deus não fez gays e sim homem e mulher. Mais então Deus, porque me fez Gay? Perguntei-me. Mas se foi Ele mesmo que me fez como dizem por que não me fez “normal” como os outros?  E enquanto eu questionava Deus do alto do pé de goiaba me desequilibrei e cai. Na queda fiquei desacordado e quebrei a clavícula. Por tanto tive que adiar meu suposto suicídio. Porém ao ficar no hospital tive como colega de quarto um senhor ateu que me disse o seguinte:
— Meu filho, na vida sempre existirá dois caminhos. Você só precisa escolher o melhor e, seguir em frente.”.
— Eu refleti sobre o que ele me disse toda a noite. E no meu íntimo eu sei que foi Deus quem me fez cair do pé de goiaba. E interromper minha vida não me trará nenhuma resposta. Eu só obterei as minhas respostas “vivendo”. Por isso eu escolhi viver.
Dizendo isso abraçou a amiga e disse:
— E você, o que vai escolher Merehelem? A vida ou a corda?


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