Merehelem
sempre foi uma criança introvertida, tímida, medrosa. Gostava de brincadeiras
de meninos, de roupas de meninos. Já Jhames era exatamente o contrário, alegre,
falante espalhafatoso! E, amava as coisas de meninas. Estudavam juntos desde
criança por isso eram colegas. Não chegavam a ser amigos pois eram bastante
diferentes nos gostos, ou seja, com poucas afinidades. Marehelem era católica e Jhames evangélico.
Ambos frequentavam suas igrejas com seus pais e irmão.
Mas eles tinham
algo em comum: sofriam Bullyng quase todos os dias. Na escola, na rua, na
família em qualquer lugar que fossem. Um
determinado dia a professora de filosofia escolheu os dois para fazerem um
trabalho juntos, exatamente sobre bullyng.
Eles
escolheram fazer o trabalho na casa de Jhames já que seus pais trabalhavam e
poderiam falar mais abertamente sobre o assunto. No dia marcado Merehelem foi até a casa do
colega. E enquanto Jhames falava sobre bullyng e suas consequências, Marehelem
desatou a chorar compulsivamente. Jhames manteve a calma, pois sabia que a
colega precisava muito de sua ajuda naquele momento.
Calmamente ele
esperou que Marehelem se acalmasse e pegando em sua mão lhe perguntou se ela
queria conversar sobre o assunto. Ainda argumentou que eles estavam no mesmo
barco e que desabafar poderia ajudá-la.
Ela concordou e desfiou toda sua ladainha para ele que ouviu
atentamente. E lhe disse:
— Sabe amiga
eu tenho as mesmas minhoquinhas que me perturbam a cabeça. Tem a família que
não aceita que somos diferentes, tem a religião que nos condena e também a
sociedade que de forma um tanto quanto velada nos crucifica. Vou te contar algo que nunca contei para
ninguém para que entenda melhor como superei isso.
Merehelem
balança a cabeça afirmativamente e Jhames conta o episodio.
— Eu estava
farto das brincadeirinhas de mau gosto, do meu pai me dando bronca e me
espancando e até de ouvir o pastor me dizendo que ia me curar. Em um domingo
após o culto, fui ao quintal — ele apontou o quintal que se via da janela. — Lá
tem um pé de goiaba que é um tipo de confidente meu. Quando criança eu passava
horas lá em cima, sentado. Mas, naquele dia eu tinha uma só coisa em mente:
acabar com aquele sofrimento. E pra isso eu precisava de uma corda. Eu sabia
que meu pai guardava uma em algum lugar. Então procurei até achar. Depois disso
subi no pé de goiaba com a corda e um caderno. Eu ia escrever algo para minha
mãe. — Marehelem a essa altura, já não chorava mais e estava totalmente
concentrada em Jhames. — Antes de escrever eu tentei fazer uma prece. Na
verdade mais um pedido de desculpas para Deus. Eu disse a Ele que me perdoasse
pelo que faria, pois eu já não aguentava mais. E também falei que não conseguia
compreender as pessoas religiosas. Pois sempre insistiam em dizer que Deus não
fez gays e sim homem e mulher. Mais então Deus, porque me fez Gay? Perguntei-me.
Mas se foi Ele mesmo que me fez como dizem por que não me fez “normal” como os
outros? E enquanto eu questionava Deus
do alto do pé de goiaba me desequilibrei e cai. Na queda fiquei desacordado e
quebrei a clavícula. Por tanto tive que adiar meu suposto suicídio. Porém ao
ficar no hospital tive como colega de quarto um senhor ateu que me disse o
seguinte:
— Meu filho,
na vida sempre existirá dois caminhos. Você só precisa escolher o melhor e,
seguir em frente.”.
— Eu refleti
sobre o que ele me disse toda a noite. E no meu íntimo eu sei que foi Deus quem
me fez cair do pé de goiaba. E interromper minha vida não me trará nenhuma
resposta. Eu só obterei as minhas respostas “vivendo”. Por isso eu escolhi
viver.
Dizendo isso
abraçou a amiga e disse:
— E você, o
que vai escolher Merehelem? A vida ou a corda?
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