quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Casamento na Roça.- Série Manu

Lya e Zazá acordaram cedinho para ir ao casamento. Lya vestiu seu vestido rosa rodado de mangas bufantes e laço branco. Sua mãe lhe penteou os cabelos loiros, feito paina. Seus olhinhos azuis brilhavam de alegria. Zazá usava um vestido idêntico, só que azul.
Foram em uma caravana de homens, mulheres e crianças. Lya se divertia passando as mãozinhas no capim gordura ainda molhado pelo orvalho da noite. Arrancava pendões vermelhos de alguns capins, escorregava em pedrinhas, levantava e caia de novo. E... derrepente, sai correndo na frente das pessoas. Queria ser a primeira a pegar as suculentas e gorduchas “amoras da mata”. Mas Zazá corre também. E ela, como fosse pequenina e esperta, chega primeiro a uma enorme moita de amoras. Olhou de olhos arregalados, estava carregadinho! Cata apressadamente, gulosamente  enfia todas na boca; e de uma só vez. Não dava para guardar eram irresistíveis. - Tinham gosto de traquinagem; que saudades! -  Zazá também já estava atacando o pequeno pé abarrotado de delicias matinais.  -  Ela pensava.; Hummmmmmmm, deliciosas! Com sabor de infância, de travessura, de eternidade! 
- Deixa pra mim também, sua gulosinha. – Zazá grita com ela,  Lya responde:
- Cata ai uai!
Ao longo do caminho, em meio à mata, havia muitas moitas de amoras. Que elas quase disputavam no tapa. Seguiram por uma trilhazinha, atravessaram uma pinguelinha e continuaram a subir à estradinha; pulando por cima de pedras, atravessando riachos, passando por porteiras, até chegar a um terreirão enorme.
Era um dia ensolarado de domingo e todos chegavam bem cedo para ajudar. Homens enfeitavam o terreiro, com bambuzinhos em forma de arcos, que serviriam de passagem para os noivos quando chegassem da igreja. Algumas mulheres faziam gomos de papel, para enfeitar os arcos, intercalando-os com muitas flores, “flores de maio”. Frangos eram depenados na bica de água que descia da mata, uma água pura e extremamente gelada. Várias mulheres corriam por todo lado para dar conta da comida. Que pelo cheirinho já denunciava uma festança. Um cheiro de café de garapa se espalhava pelo ar; os convidados chegavam e iam tomar o delicioso café. Mais tarde seria distribuido pão e doce de mamão feito com melado. - Uma delicia!
Lya olhava encantada aqueles bambus em forma de arcos enfeitados por inúmeros “monsenhor”; (assim chamados por eles: os crisântemos) amarelos e brancos. Lindos! E Lya olhava, olhava; rodava, rodava.  E... quase que cai de tonta! Olhou para o alpendre lá em cima todo cercado de bambuzinho e de flores. Subiu as escadas, e, sentou-se lá no último degrau. E de lá, via as pessoas correndo, de um lado para o outro, atarefadas.
O cenário era incrivelmente pitoresco. O céu estava cor de fogo, pois o sol acabara de se levantar preguiçosamente no horizonte. Algumas nuvens em forma de carneirinhos pareciam correr pelo céu. E ela pensava: “Elas devem estar brincando de pique esconde!”.
E continuou olhando boquiaberta aquela festa que lhe parecia encantada como nos contos de fadas. E ela, gostava muito de observar tudo.
A algazarra das crianças brincando de pique esconde chamou sua atenção. Ela também quis brincar então, desceu à escada correndo, para pedir à irmã:
- Zazá deixa eu brincar também?
Pediu quase chorando, pois sabia que a irmã não gostava de brincar com ela, por ser muito pequena e chorona. Mas como a sua mãe tinha lhe dito para não fazê-la chorar, ela acabou cedendo, mais disse:
- Tá bom, mais vai ser café-com-leite, viu.
Ela ficou enfezada, mas fazer o que, esse era o único jeito de conseguir brincar também. Começou a correr atrás de todas as outras crianças, mas por ser café-com-leite, ninguém corria atrás dela. Então começou a chorar e a reclamar e acabou desistindo de brincar. Mas só de raiva, lascou uma baita mordida na irmã e saiu correndo. Subiu as escadas e foi se esconder na sala.
Olhou para cima e admirou-se com alguns retratos antigos que estavam pendurados na parede. A sala era enorme, porém não tinha muitos móveis. Apenas algumas cadeiras, uma mesa e muito espaço vazio. A pequenina Lya continuou sua aventura pela casa, entrando em um corredor enorme onde havia muitos quartos. Seguiu por ele e saiu em um enorme cômodo, que estava quase vazio, porém com inúmeras janelas. E, de repente, ela sentiu um cheirinho gostoso de café e de comida que vinha de uma porta. Então, foi até lá e deu uma olhadinha. E levou um baita susto! Viu um porquinho deitadinho em uma enorme travessa; rodeado de alfaces, tomates, cebolas e batatas. E, ele estava com o rabinho enroscadinho. Ela ficou pensando: - Por que ele não se meche. - então, resolveu olhar mais de pertinho, e, de sobre-salto disse em voz alta:
- Nossa!!! Como esse porquinho consegue dormir com todo esse barulhão?! E ainda todo enfeitado desse jeito! Todo cheinho de tomates e essas coisinhas aí verdes. Tadinho!
Todo mundo riu dela. E uma senhora lhe explicou:
- Não garotinha ele não está dormindo, não. Ele esta é mortinho da silva! E nós vamos é comer ele todinho que ele deve de tá uma delicia!
- Eu não vou comer ele não. Coitadinho! – disse Lya choramingando.
E com pena do porquinho saiu correndo pela porta da cozinha. Passou por uma bica de água, onde havia muitas mulheres lavando pratos. Saiu dali e continuou seu passeio pelo terreiro, E foi olhar as cruzes que havia num morrinho próximo da varanda. Ficou olhando-as admirada e assustada. Elas estavam todas enfeitadas, com muitas flores de plástico. Saiu dali e foi até o pé de pêssegos que ficava pertinho do paiol e pegou uns para comer. Depois resolveu se sentar em uma tora perto da porteira. E ficou muito tempo olhando as pessoas que chegavam. Todas enfeitadas e emplumadas.  Riu muito de uma senhora que passou com a  saia cor de abóbora e muito rodada. Ela estava com o rosto cheio de algo vermelho, que Lya na sua pequenez, não soube bem identificar o que era. -  na certa teria levado uma ferroada de marimbondos, pensou ela. - Achou muita graça e riu alto. Mas a mulher fez cara feia e ela  mais que depressa, mostrou-lhe à língua!
Todos tomavam café de garapa ou comiam pão com doce de mamão feito com melado. Então se ouviu um enorme alarido de palmas e muitos vivas. Eram os noivos que chegavam e Lya correu para vê-los. Eles passaram entre os arcos de bambus e foram  alvejados com uma chuva de arroz e aclamados com aplausos e assovios.
E na hora do almoço todos faziam seus pratos e se sentavam onde desejassem. Tinha gente sentada até perto das cruzes! Esse foi um dia muito importante para Lya que ficara abismada com aquelas cenas tão estranhas para sua pequenez.
O alto do Cediabrão lhe parecia o topo do mundo. Andaram muito a pé até chegar lá; passaram por caminhos estreitos e muitas vezes nem existia caminho. Em certos momentos tinham que andar no meio do mato mesmo, ou em pequenas trilhas, pulando por sobre as pedras. A casa dos pais da noiva era grande e majestosa com seu alpendre alto cercado de rosas, trepadeiras, bambuzinhos. Lya se divertia, olhando aquelas grandes e engraçadas moitas de capim, que cercavam certa parte do terreirão. E onde ela, poderia até se esconder, se não tivesse horror a cobras. E todo o terreiro era de um majestoso colorido, enfeitado e perfumado por dálias, hortênsias, palmas de santa Rita, rosas e muitas flores de maio.
E ao cair da tarde, Lya e sua família, descerão o Cediabrão de volta para casa!


By Lya Lukka


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