sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O frade e a freira ( ou a indiazinha)

 


O FRADE E A FREIRA

A pedra do Frade e da Freira é uma formação rochosa com 683 metros de altura, localizada na divisa dos municípios de Cachoeiro de Itapemirim e Rio Novo do Sul, próximo a BR 101, na região sul do estado do Espírito Santo. Ela é composta por montanhas geminadas que aparentemente formam as figuras de duas pessoas colocadas frente a frente como se estivessem conversando ou simplesmente se encarando, mostrando um quadro de tamanha beleza que se tornou motivo de cartões postais levados por turistas e pelos próprios capixabas, como recordação daquela paisagem bucólica e encantadora. Sobre a mesma criou-se uma lenda que vem de tempos antigos, ninguém sabe precisar quando, que nos conta a história de um frade que se apaixonou pela freira que com ele trabalhava na cristianização dos índios da região, e acabou sendo correspondido no amor que tomara de assalto o seu coração. Diz essa narrativa que Deus condoeu-se do sofrimento que martirizava esses seus dois servidores, e decidiu eternizar a paixão que os atraía um ao outro, transformando-os em pedra.

A montanha do Frade e da Freira fica situada entre os municípios de Cachoeiro de Itapemirim e Rio Novo do Sul, (que disputam sua posse) Cachoeiro tem os melhores ângulos para contemplar o monumento natural que tanto embeleza aquela região.
Ao escrever sobre sua terra natal (cujo nome significa água encachoeirada, leito acidentado pelo excesso de pedras, formando torrentes espumosas) o cachoeirense Evandro Moreira esclarece que “seus primeiros desbravadores foram os frades jesuítas, que pesquisavam ouro nas Minas do Castelo, desde 1625, tendo ali construído uma capela e a Aldeia dos Montes. O caminho não era ainda o rio Itapemirim. Demandava-se as Minas a partir do rio Doce ou, provindo de Minas Gerais, pela região do rio Manhuaçu, por onde chegou Pedro Bueno Cacunda, em 1705 e que é considerado o primeiro bandeirante dos "cachoeiros". Também se chegava diretamente de Benevente e Itapemirim pelo antigo caminho de Santa Cruz, por onde fugiram os garimpeiros das Minas, por volta de 1776, fixando-se na região do baixo Itapemirim (Vila e Barra)”. E continua: “A partir de 1812, existiu aqui o Quartel da Barca, que era um referencial para os soldados que batiam as matas, formando um triângulo ‘passando pela estrada do Rubim (ligando Vitória a Mariana), seguindo pelo sertão até a fazenda da Muribeca (dos frades Jesuítas que pesquisavam ouro, situada no extremo da Província)...”.
Por essa explanação se fica sabendo que há quase quatrocentos anos os frades andavam pela região sulina do Espírito Santo em busca de almas e ouro, o que fortalece a veracidade da lenda que muitos e muitos anos depois, em 1938, adquiriu foro de verdade nos versos de Benjamim Silva (1886-1954), natural de Castelo, então ainda pertencendo a Cachoeiro de Itapemirim, que figura em várias antologias de poetas nacionais com o soneto “O Frade e a Freira”, um dos mais conhecidos da poesia espírito-santense: Diz ele:



Na atitude piedosa de quem reza,

e como que num hábito embuçado,
pôs, naquele recanto, a natureza
a figura de um frade recurvado.
E sob um negro manto de tristeza
vê-se uma freira, tímida ao seu lado,
que vive ali rezando, com certeza,
uma oração de amor e de pecado.
Diz a lenda – uma lenda que espalharam –
que aqui, dentre os antigos habitantes,
houve um frade e uma freira que se amaram.
Mas que Deus os perdoou lá do infinito,
E eternizou o amor dos dois amantes
Nessas duas montanhas de granito.


Alguns autores disacordam quanto ao fato de ser uma freira, posto que naquela época ainda não havia freiras aqui, então surge-se a figura da índia apaixonada pelo frei.
Discordâncias à parte, o fato é que em fins do ano passado o governo do Espírito Santo, através de decreto, deu ao monumento natural “O Frade e a Freira” a condição de marco representativo do Estado, reconhecendo que sua considerável beleza cênica lhe confere um grande potencial para o turismo sustentável regional, integrado às condições naturais dos ecossistemas e das paisagens, podendo promover novas opções de renda para as comunidades residentes na Unidade e em seu entorno.

Quanto aos protagonistas dessa história de amor e mistério, continuarão sendo cantados em prosa e verso pelos tempos à fora, não obstante as opiniões em contrário.


Este texto também foi publicado em www.efecade.com.br, que o autor está construindo. Visite-o e deixe a suaopinião.





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